Giorgio Agamben: poesia, filosofia, crítica destaca-se pela beleza da escrita, isto é, pela maneira leve, livre e inventiva como é escrito. Destaca-se também pela pujança de um pensamento capaz de ir ao essencial ao abordar a relação da poesia com a filosofia, privilegiando Agamben e a relação de sua filosofia com Heráclito, Nietzsche e Heidegger, além de Hegel e Freud. E, a esse respeito, vemos, pela interpretação de Alberto, que a posição de Agamben é muito próxima da de Nietzsche, com sua busca de confluências entre filosofia e literatura, ou no desejo de encontrar novas maneiras de escrita filosófica.
O tema central do livro é a relação entre filosofia e literatura em Agamben, aspecto menos conhecido de sua obra. Isso não significa, porém, que se possa reduzir o livro a um comentário de Agamben, na medida em que, nos ensaios que o compõem, existe grande liberdade em relação ao filósofo. Trata-se, por isso, mais de um livro com, ou a partir de Agamben, do que propriamente sobre ele. A esse respeito, é muito bonita a maneira como, de diferentes perspectivas, o livro vai construindo os elementos que, inter-relacionados, compõem o quadro tanto da denúncia da fissura ocidental entre filosofia e poesia quanto da busca de uma linguagem poético-filosófica que seja “uma dança do intelecto por entre as palavras”, capaz de reunificar a linguagem cindida ou despedaçada.
Às vezes o livro está investigando diretamente a relação entre filosofia e literatura, como no primeiro texto. Às vezes discorre sobre a crítica, defendendo a urgência de uni-la à arte através de uma atitude crítica criadora que assegure a “negatividade”, como no segundo. Às vezes também aborda a diferença entre poesia e prosa, numa perspectiva bem próxima da “poética” no sentido aristotélico do termo, mas para defender que a verdadeira linguagem deve ultrapassar essa distinção. Às vezes, finalmente, reflete sobre a tragédia ou sobre a relação da tragédia com a linguagem, para ilustrar um exercício de pensamento que seja um ponto de encontro entre filosofia e poesia. Ora, o maravilhoso é que essa opção pelo ensaio, mais do que pela tese, faz o livro seguir várias direções complementares, proporcionando a Alberto uma liberdade de escrever e de pensar que lhe permite expor seu próprio pensamento sobre a literatura e a filosofia, mesmo que sua inspiração principal seja o filósofo italiano.
O que lemos aqui — concordemos ou não com a posição exposta delicadamente pelo autor — são verdadeiros ensaios de pensamento de uma escrita criadora: entre a filosofia e a literatura.
Roberto Machado