A idéia deste livro surgiu no dia em que, com um projeto sobre poesia e filosofia em Giorgio Agamben, recebi a notícia de ter ganhado a bolsa da FAPERJ referente ao Programa Jovem Cientista do Nosso Estado. Planejei, então, organizar um livro coletivo enquanto preparava um individual. Para o primeiro – este que agora vem a público –, convidei nove pesquisadores especialistas na obra do filósofo italiano para escreverem sobre nove de seus livros.
Mesmo sabendo que a obra em questão não pode ser estanquemente dividida em, pelo menos, dois momentos, o anterior a Homo Sacer e o posterior a ele, ou seja, um “menos” e outro “mais” político, é fato notório que, a partir de tal publicação, algo não é apenas iniciado, mas passa a demandar um fôlego renovado. Em uma entrevista, o filósofo já afirmou: “Quando comecei a trabalhar em Homo Sacer, soube que estava abrindo um canteiro que implicaria anos de escavações e de pesquisa”. Foi exatamente a abertura desse canteiro que fez com que a segunda metade de sua obra, recebendo leituras e críticas bem mais numerosas do que a outra, o tenha consagrado como um dos filósofos em atividade mais dignos de atenção – talvez, o mais. Grande parte de seu renome decorre desses livros cujo acento político se faz predominante.
Para o meu projeto, entretanto, o interesse é outro, recaindo, sobretudo, como um dia brincou o próprio filósofo, no “jovem Agamben”. Gostaria de me apropriar do “jovem” de sua expressão para designar tanto os livros anteriores a Homo Sacer quanto aqueles que, mesmo posteriores a ele, enquanto exceções cronológicas (Categorias Italianas e Profanações), explicitam a força maior da temática presente desde “O Homem sem Conteúdo”. Nesse sentido, “jovem”, aqui, quer falar de uma filosofia vigorosamente atrelada à literatura, à poesia, à arte, à estética, à crítica, à poética, à linguagem e, também, à política. Além de ser o foco principal do meu desejo de trabalho, parece-me que, por ser mais raro, privilegiar tal diagonal pode mostrar reflexões decisivas sobre um Agamben menos conhecido e estudado. Não tenho dúvidas de que, ao abordar tais linhas de força, o “jovem Agamben” é igualmente um dos filósofos mais importantes do mundo – se não for o mais – com contribuições de pensamento das mais exigentes, necessárias e criadoras de nosso tempo.
Foi com grande alegria, portanto, que vi os convidados integrarem esta coletânea, dando a ela a qualidade que, se esperada em função dos nomes dos participantes, posso, agora, testemunhar. Eles estão entre os mais respeitáveis pesquisadores brasileiros da obra de Giorgio Agamben; o único estrangeiro é João Barrento, ensaísta, tradutor e professor da Universidade Nova de Lisboa e autor, dentre outras, da tradução de Idéia da Prosa para a edição portuguesa, que generosamente aceitou emprestar ao nosso livro sua apresentação à respectiva obra, até o momento inédita no Brasil. A todos os colaboradores, meus agradecimentos por permitirem que, abraçando o inapreensível Giorgio Agamben, o livro se estruturasse da seguinte maneira:
- O Homem sem Conteúdo (1970) – Sueli Cavendish
- Estâncias (1977) – Alberto Pucheu
- Infância e História (1978) – Susana Scramim
- A Linguagem e A Morte (1982) – Cláudio Oliveira
- Idéia da Prosa (1985) – João Barrento
- A Comunidade que Vem (1990) – Sabrina Sedlmayer
- Bartleby, A Fórmula da Criação (1993) – Antonio Teixeira
- Categorias Italianas (1996) – Carlos Eduardo Schmidt Capela
- Profanações (2005) – Raul Antelo
Alberto Pucheu
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