APRESENTAÇÃO: ÍTALO MORICONI |
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Alberto Pucheu é um poeta autêntico e sua poesia primeira , jovem , surge agora no cenário como promessa real , potência . Adequada portanto à proposta básica da série Poesia na UERJ: fazer chegar ao mercado das palavras , das sonoridades, das frases e ditos , intervenções que em algum sentido pareçam capazes de fazer diferença . No espaço supersaturado da midiasfera, indicar o caminho do corte sangrado. Palavra que é imagem tornada corpo . Palavra que é tumulto transformado em pausa para meditação ou fascinação íntima . Palavra que é força . Poesia escrita . Palavra delicada . Neste exato instante em que a palavra das mulheres toma corpo no cenário da poesia jovem (e nem tão jovem ), a linguagem de Pucheu mostra que a delicadeza também existe como atributo dos homens . Pode até ser que , por ora , ela precise ser preservada justamente por eles , à medida que o feminino busca assumir , na cultura , uma face pública , guerreira . No entanto , bem consideradas as coisas , delicadeza no trato da linguagem é qualidade de todo o poeta autêntico , independente de gênero . Donde se conclui: a poesia não-feminina precisa ser necessariamente masculina ? Na de Pucheu, a indistinção entre os gêneros se dá como olhar pensador / abrindo-se para o deus mar / que por sua vez se abre para a cidade ,/ transforma-se em cidade / que é linguagem / linguagem poética / concretizada no papel-areia/ alfabeto . Estou apenas glosando, como forma de homenagem , que é a outra maneira ( maneira do poeta ) de falar de poesia , além da crítica . Como crítico , assinalo: por trás dessa competente urdida figura poética do mar-cidade-palavra, delineia-se o emblema de uma antiga figura mítica – Ulisses. Mas por que Alberto Pucheu parece ser um poeta autêntico ? Eu diria que fundamentalmente porque mostra ter coragem suficiente para conseguir criar imagens ousadas, fortes , sabendo amarrar seus poemas em torno delas. Por outro lado , e aqui temos um indicador ainda mais seguro de um potencial de poeta , porque consegue trabalhar de múltiplas e originais maneiras algumas metáforas muito simples e muito milenares ou centenárias em matéria de poesia . Pessoalmente , me agrada esse tipo de lírico que extrai poesia delicada de um núcleo forte e coerente formado por topoi da tradição poética ocidental e universal . Mar , areia , azul , rua , alfabeto – tudo isso pode ser sempre reativado por sangue novo em poesia . É o sangue do poeta jogado pra galera , pra ela saciar sua fome de carne e de peixe .
ÍTALO MORICONI
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